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Can you keep a secret??

Can you keep a secret??: março 2014

Can you keep a secret??

Blog da jornalista, coordenadora e voluntaria ERIKA YAMAUTI. Em pauta, livros, filmes, impressoes, relatos e reflexoes leves sobre a vida, com muita energia positiva!!

domingo, março 30, 2014

Lágrimas e chuva


Hoje foi um dia particularmente difícil pra mim. Precisava ir em uma missa de 49 dias e ando meio emotiva com essas coisas, por causa das fotos antigas do Seinen que andei mexendo e reflexões que tenho feito. Ainda bem que encontrei meus amigos por lá, e o pessoal do movi também, então foi tudo mais suave do que imaginava...

A missa reuniu muita gente e começou pontualmente. A gente chegou meio atrasado por causa da chuva forte que começou a cair sem aviso, no exato momento marcado para o inicio da missa. O barulho das gotas de chuva me fez pensar em lagrimas. Tomamos um pouco de chuva, mas sinceramente eu nao ligo muito (porque adoro chuva).

Enfim, sou realmente péssima para confortar as pessoas, porque não consegui realizar a homenagem que tínhamos pensado, e as palavras me faltam pra explicar o quanto essa amiga foi querida e importante na minha vida (e eu não consegui dizer isso pra ela). As minhas lagrimas não foram derramadas, porque eu sei que ela está bem e em paz. Isso que importa.

Encontrei um velhinho do Bunkyo e ele disse: "você não é do Bunkyo?", e eu respondi que sim, e que a A. tambem foi muito importante no Seinen Bunkyo. E ele, que é da diretoria da entidade, nem sabia que ela era voluntária (mesmo tendo encontrado ela varias vezes no prédio!! Afinal, o Bunkyo é um ponto turístico...). Enfim, velhinhos são velhinhos, sempre meio desligados! Temos que ter paciência com eles!

"A vida é muito importante.
É algo como uma pilha que faz o ser humano viver.
Mas uma pilha se gasta um dia.
A VIDA também acaba um dia.
Uma pilha pode ser trocada, mas a vida não pode ser trocada facilmente.
É algo que foi cedido por Deus depois de dias, meses e anos.
O ser humano não vive sem a vida.
Mas existem pessoas que jogam a vida fora,
Dizendo que não precisam mais dela, 
Mesmo podendo gastá-la bastante ainda.
Fico triste quando vejo pessoas assim
Pois a vida trabalha sem parar.
Por isso, até que a vida diga 'chega',
Vou viver ao máximo!"

Esse texto foi distribuido para todos e achei muito bonito. Tudo isso que aconteceu nos ultimos tempos me fez pensar (ainda mais) sobre o que é realmente importante em nossas vidas. Estou realocando as prioridades, colocando tudo em ordem, para que eu possa continuar vivendo ao máximo, feliz todos os dias, trabalhando, realizando meus sonhos e ajudando muita gente pelo caminho.

A nossa amiga era uma pessoa realmente muito querida, especial e iluminada. Agora ela está olhando pela gente lá de cima, distribuindo sorrisos, alegria e paz. Saiba que nunca vou me esquecer da sua luta. Inspirada em você, eu vou viver a vida ao máximo, agradecida por ter tido a oportunidade de conhecer alguém tão incrível como voce. Bjs eternos de alguém que te admira (e sente saudade).

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sábado, março 29, 2014

Viciada (em franca recuperação)

Trabalho sempre foi um vicio gostoso pra mim (=virginiana). Trabalho remunerado, trabalho voluntário, tanto faz! Eu vivi assim por muitos anos, lembro inclusive de épocas em que tinha 2 empregos, ajudava no seinen e ainda estava na faculdade! Era uma pessoa um tanto estressada e me arrastava no metrô, dormia no ônibus, esquecia coisas e era muito chata. 

Ou seja, eu vivia completamente exaurida, e talvez me ocupasse tanto justamente para não ter que pensar na minha vida, refletir se aquilo estava me trazendo felicidade. Algumas pessoas são viciadas em drogas, outras em cigarro ou bebidas. O meu vicio, no trabalho, é mais simples e fácil de resolver. Hoje posso me considerar (quase) totalmente recuperada.

Eu digo "quase" porque imagina a cena: uma sexta feira, as 19:00 eu estava no escritório sozinha respondendo email, marcando reunião e anotando pendências da semana que vem, organizando minha agenda. E nisso recebi uma resposta do meu amigo (mais workaholic que eu). E pensei, "uma noite tao bonita, oque estou fazendo até essa hora no escritorio?"...Hahahaha...daí juntei minhas coisas e vim embora, e não trabalhei à noite!

Tenho me esforçado (muito) para não trabalhar em casa, até porque a minha vida profissional é repleta de sucesso, e sempre terei mais e mais trabalho pra fazer, então não adianta ficar trabalhando até o nível de burnout. No dia seguinte, tem mais coisa pra fazer, entao pq me estressar? Lógico, de vez em quando, tenho que trabalhar até mais tarde, ou de fim de semana, e tudo bem! Afinal, eu sei que com grandes poderes, vem grandes responsabilidades.

Por muito tempo, achei que a minha vida só seria realizada na esfera profissional, e sinto pena de mim, que vivi essa ilusão por tantos anos, e lamento pelas outras pessoas também, aquelas que perseguem um sucesso profissional ilusório, que na verdade, não traz felicidade. Finalmente entendi que o sucesso e a felicidade estão no equilíbrio entre os vários campos da nossa vida. E posso dizer com todas as letras: sou muito feliz!

Hoje eu consigo equilibrar muito melhor na minha vida o tempo para trabalho, saúde, família, amizades, voluntariado, estudos, diversão, relacionamento, realização de sonhos. Sei que viemos ao mundo com a missão de buscar a felicidade, fazer o bem para as pessoas. Definitivamente, nao estamos aqui só para trabalhar! O meu dia tem 24 horas, e agora, busco aproveitar cada minuto! Bjs!

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terça-feira, março 25, 2014

Troublemaker!

A vida é muito engraçada. Os meninos me falaram de uma pessoa chata, disfuncional, prepotente, que causa problemas por onde passa, cultiva inimizades e se desentende com tudo e todos. Ninguem gosta dele(a), ou seja, trata-se de uma pessoa bem difícil (e olha que nós estamos acostumados a lidar com casos disfuncionais kkkkk). O dilema coletivo? Ele(a) tinha se inscrito pra ser voluntaria(o) no evento do fds. #comofaz?

Perguntinha básica: oque leva uma pessoa em sã consciência a freqüentar um lugar no qual as pessoas não gostam dela, ainda mais pra fazer trabalho voluntário? Será uma tendência masoquista? Será uma absoluta falta de simancol? Talvez falta do que fazer? De qualquer maneira, o jeito foi torcer pelo melhor e seguir em frente!

Eu tinha uma leve impressão de que eu conhecia essa pessoa (oque se confirmou mais tarde). O mais irônico, é que eu tinha uma boa impressão (kkkkkk eu sempre espero o melhor dos outros), mas é porque nunca trabalhamos juntos, temos convívio direto durante 3 dias ao ano, o que é muito pouco, se comparado aos outros, que conviveram mais. Por isso, a minha avaliação nao estava correta. Ainda bem que me alertaram!

Segundo o meu amigo, que tem tantos anos de trabalho voluntário quanto eu, esse foi o caso de voluntário mais complicado que ele já conheceu. Ou seja, não é brincadeira! E na verdade, a gente acaba lidando com muitos casos complicados em nossa vida de lideres de entidades nikkeis e projetos sociais. É dificil lidar com tantas expectativas e responsabilidades, mas nos esforçamos para fazer o melhor. 

O evento no final foi muito bom, deu tudo certo, e pelo que eu saiba, a pessoa (felizmente) não causou problemas pra ninguem. Eu pelo menos, vi muito esforço e humildade nos gestos dele(a). Desejo que essa pessoa tão complicada consiga amadurecer e entender algo essencial: acima de ego, holofotes e cargos, está o bem que fazemos para as pessoas. Essa é a causa pela qual trabalhamos e nos dedicamos. O resto é purpurina. Bjs.

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domingo, março 23, 2014

A solidão nossa de cada dia


Sabe quando você está no meio de uma multidão, e mesmo assim se sente sozinho? De vez em quando, eu ainda sentia isso (hoje é muito raro). Estava conversando com meus amigos no Frans e falamos de um colega nosso, que segundo a opinião deles, é uma pessoa muito solitária, e eu nao tinha pensado a respeito. Na hora, pensei que gosto de ficar comigo mesma, e nao sou uma pessoa deprimida...muito pelo contrario!

Hoje, eu realmente considero que sou a melhor companhia que existe pra mim nesse mundo todo. Quando me permito ficar sozinha, me sinto bem feliz, tranquila, completa. Posso viver dias relaxantes, refletindo sobre a vida, organizando minhas idéias, criando planos mirabolantes. Aprendi a valorizar esses momentos preciosos de reflexão e crescimento. Lógico, eu busco alguém para compartilhar minha vida, mas nao aceito mais anular quem eu sou, para agradar outra pessoa.

Assisti ao filme "Ela", que é a historia de um escritor que vive de escrever cartas para outras pessoas (eis uma profissão que eu poderia seguir tranquilamente hehe, pq sou otima). Ele é muito solitário, magoado, critico e deprimido. Então, nesse mundo retratado no filme, as pessoas interagem com maquinas e avatares, mas nao conseguem estabelecer uma ligação mais profunda com outros seres humanos. Parece familiar?

Sabe um mundo em que as pessoas não olham para as outras e ficam entretidas olhando a telinha no celular? Pois é exatamente isso. Então o Theodore compra um novo sistema operacional (OS) que é dotado de consciência. E olha que consciência maravilhosa: a Samantha é a voz da Scarlett Johanson, e não tem um corpo físico, mas eles vão se tornando amigos. E com o tempo, acabam se apaixonando e virando "namorados", numa relação que é mais verdadeira, mesmo sendo virtual, do que todos os outros relacionamentos anteriores do Theodore. Muito louco isso!

Achei legal que o filme mostra como se constrói um relacionamento real. São aquelas pequenas histórias que vão sendo construídas junto com a pessoa, são os pequenos toques de delicadeza diária e cuidado com o outro, e ainda as palavras que confortam e encantam a alma. Todos esses elementos são ingredientes para um relacionamento amoroso saudável e gostoso. Eu quero tudo isso para mim, lógico, e o Theodore encontra esse verdadeiro amor na Samantha. E eles vivem essa felicidade não programada, mesmo sendo seres essencialmente diferentes.

Entretanto, algo se sobrepõe ao romance. Samantha, que é uma consciência imaterial e virtual, evolui infinitamente. Infelizmente, o Theodore, como nós todos, é um simples ser humano. Finito, físico, frágil, incompleto. Porém, algo dá errado na programacao infinita que criou os OS. Eles evoluem exponencialmente, de forma que as barreiras da nossa realidade e consciência ficam muito pequenas para eles. Nesse momento, o amor entre Samantha e Theodore chega a um impasse. Como vivenciar o amor, em dimensões tão diferentes? O desfecho é melancólico, mas pelo menos para mim, o filme do Spike Jonze suscitou muitos questionamentos sobre o amor, expectativa e relacionamentos. Bjs!

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quinta-feira, março 20, 2014

Porque o mundo não precisa gostar de mim

"Olha Erika, nao sei o que aconteceu, mas aquele cara realmente não gosta de você". Esse foi o inicio de uma conversa + reuniaozinha que tive há uns dias. O engraçado é que não me importo (mais) se as pessoas gostam ou nao de mim, mas eu acho que sei exatamente oque aconteceu. Esse "cara" que nao gosta de mim, na verdade, gosta (muito) de mim (talvez até inconscientemente), mas a raiva que ele sente por mim, vem do fato de eu não sentir raiva dele. Porque eu não sinto raiva de ninguém. 

Felizmente, graças aos caminhos que escolhi, estou num estagio espiritual mais elevado que a maioria das pessoas, não guardo rancor, magoa, ressentimento, não carrego bagagem pesada. Não estou dizendo que sou uma mini-Dalai Lama, mas eu consigo me desapegar das coisas ruins que me acontecem, muito fácil e rapido. Nao fico remoendo coisas passadas ou futuras, nao rebato, ando desarmada. Então a pessoa pode (tentar) fazer mal pra mim, mas nao vou carregar isso no meu coração, pq isso envenena a alma. Prefiro ser livre, leve e saudável.

Por isso que eu, sinceramente, nao sinto nada por essa pessoa. Nem sentimento bom, nem ruim: pra mim é alguém que simplesmente, não faz parte da minha vida. E a indiferença, dizem, é pior que a raiva. E daí, a pessoa deve observar como eu lido - sempre com muito carinho - com meus amigos, conhecidos, até desconhecidos, e pensar: "Porque nao sou tratado assim?". E sentir muita raiva de mim. O que tenho a dizer sobre isso? Simples. "Sou um ser espiritualmente superior. Beijinho no ombro!" :)

Logico que eu sou uma pessoa compassiva, tenho (muita) pena dessa pessoa, mas cada um tem que seguir seu caminho na vida. E o caminho, cada um descobre sozinho. Nao sou guru espiritual pra ficar apontando a solução e nao carrego mais problema de ninguem. Então, "pessoa que nao gosta de mim", caso vc fique me stalkeando no Google, não adianta pedir pra ser meu amigo no facebook, nao vou aceitar a solicitação! E nao adianta falar mal de mim por aí, porque meu trabalho e minha reputação falam por si. Infelizmente, nem assim vc me atinge. Porque eu nao abro espaço pra coisas ruins na minha vida. E as pessoas que fazem o mal, recebem o mal de volta, sabe?

Meu querido (e único) leitor, você pode até perguntar pra mim, quais são os motivos que fazem com que eu corte uma pobre pessoa das minhas relações pessoais, com tamanho grau de indiferença gélida e cortante? Desonestidade, injustiça, corrupção, maldade, ganância, são coisas que com certeza, quero bem longe de mim. 

Pessoas do bem costumam se cercar de pessoas que tambem fazem o bem, entao esse é um requisito essencial. Mas essa pessoa, em especifico, fez algo que eu não aceito de forma nenhuma: desrespeitou um voluntário. É algo que realmente não tolero e não sou conivente. Certamente, essa é a maneira mais fácil de se distanciar da minha maravilhosa e agradável pessoa. Hahaha...sem querer agradar a todos, seguimos vivendo com leveza e energia positiva. Bjs!

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quarta-feira, março 12, 2014

Block total

Hoje vieram reclamar comigo. Meu amigo me viu no restaurante e eu nem percebi e nao fui cumprimentar. Em resumo, fui chamada de arrogante hahahaha pq eu estava tão entretida com meu "date", que nao percebi que eles estavam sentados atras de mim. E que isso já aconteceu algumas vezes antes! Comprovando o que já sabia. Distração, seu nome é Erika!

Eu realmente ando muito distraída na rua e nos lugares. Se bem que é uma distração diferente, é uma espécie de concentração focada em mim, com o claro objetivo de ignorar os outros. Isso faz parte de todo um treinamento especial pra ignorar muita coisa na rua. Especialmente babacas idiotas estúpidos, que vem falar besteira pra mim. 

Estava vendo livros na Livraria Cultura, tranqüilamente, sem incomodar ninguem, e um cara vem e se aproxima e pergunta. "Voce está ocupada? Posso falar com vc?". Eu estava ocupada de verdade (trocando msg com meu date kkkk) então falei que infelizmente, nao dava pra conversar. Voce acha que ele se abalou com isso? Nao, porque tem homem que nao respeita as mulheres.

O babaca continuou falando, de quem ele era, que eu era a japonesa mais bonita que ele já tinha visto (dica, eu NAO sou japonesa), que eu sou muito educada, etc. Mas eu nao estava a fim, eu já tinha falado antes que nao dava pra conversar. Daí o Y ligou e felizmente saí andando e deixei o cara falando sozinho. Esse é o tipo de coisa que convivo diariamente. E esse nem foi louco. Olha como mulher sofre!

Então eu me foco em mim, na minha musica, nos meus planos, e simplesmente, vou andando, feliz e tranquila, com minha postura corporal fechada. Pensando em varias coisas enquanto caminho, e procurando nao ser assaltada ou atacada no meio do percurso. Por isso, desculpa se não perceber que vc está na minha frente ou do meu lado. Pode bater no meu ombro de leve, ou chamar minha atenção, que daí eu juro que percebo!

Tambem nao tenho o costume de ficar "checando" quem está no restaurante, ou nos lugares que eu freqüento, pra saber se tem alguém que conheço (a nao ser que esteja esperando alguem, lógico). Nao vejo muita beleza por aí, então não fico reparando muito nisso. Eu sou bem capaz de fazer uma varredura simples, definir oque ou quem estou procurando, e pronto. Sem prestar atenção nos outros, block quase total. 

Desculpa, isso pode parecer frio, glacial e antipático, mas é o jeito que eu sou. Nao fico dando sorrisinhos por aí pra parecer simpática e disponível, agradando os outros. Nao estou disputando cargo politico, nao sou miss simpatia e nao vou ser agradável com os outros quando nao estou a fim. Bem simples. Eu preciso agradar a mim mesma e pronto. O resto é resto.

O meu outro amigo perguntou, "mas Erika, e na academia tem alguem bonito?". Sinceramente, nao sei. Porque eu vou na academia pra queimar calorias - muito a contragosto - não pra fazer social, conhecer pessoas ou flertar. Talvez pelo fato de eu ser muito concentrada / focada / virginiana, nao vejo (nenhuma) graça nessas coisas banais. Na academia, quero ficar em paz fazendo meus exercícios, de preferencia sem ninguem me incomodar. Sem homens chatos me olhando. Serio, como isso incomoda!! 

Eu estava lendo um artigo sobre sair da zona de conforto, algo que eu acredito e considero muito. E lá estava falando pra "sorrir pra desconhecidos na rua". Isso é algo que nunca vou fazer!!! Se andando de cara séria e postura fechada na rua, eu já nao tenho minha tranquilidade, imagina se eu ficar andando na rua sorrindo? Me desculpa, mas prefiro ser considerada arrogante, chata e emburrada!! Em resumo, é duro ser mulher num país machista. Mas isso nao justifica ficar ignorando meus amigos né! Vou prestar um pouquinho mais de atenção a partir de agora (prometo)! Bjs.

PS. Escrevi esse post meio sem inspiracao tomando chá de camomila que minha batian trouxe pra mim. Batians realmente são insubstituíveis. :)

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terça-feira, março 11, 2014

A história de uma avó e sua neta

Esses dias estava procurando umas musicas novas para cantar (e encantar) no karaoke, e acabei me deparando de novo com essa musica: "Toire no Kamisama", da Kana Uemura. É uma canção linda, mas que eu nunca consigo escutar até o final. Sempre choro. Demais. Muito mesmo. Nessas horas, confesso que gostaria de não entender japones, porque daí eu nao choraria tanto e talvez até conseguisse cantar essa musica...

A canção fala muito lindamente da historia de amor entre uma avó e sua netinha. A batian cuida da neta na infância, ensina tudo que sabe sobre a vida para a menininha. Elas sao felizes juntas. Daí o tempo passa e chega a adolescência, aquela época da vida em que a maioria de nós vira monstro e fica insuportavel, e a menina acaba se afastando da batian. 

Ela então fica longe, vive sua vida, até que chega a noticia que a batian foi internada, e a neta vai visitar. No dia seguinte, a batian morre, como se estivesse só esperando essa visita pra poder ir embora. E a neta entao percebe que nao conseguiu retribuir todo amor e todo carinho que recebeu da batian. Que nao foi uma boa neta. E isso é algo que senti todos os dias, por muito tempo.

Minha batian morreu há mais de 10 anos. Ela cuidou de mim e dos meus irmãos do jeito totalmente louco dela, excentricamente, mas sempre com muito amor e dedicação. Ela nao deixava a gente ficar largado na rua vadiando. Todos os dias, tentava fazer a gente feliz. Fazia comida, fritava bolinho, batia moti e inventava comidas malucas, além de desenhar pra mim e me ensinar muitas coisas. E alias, me fazia comer chuchu todo dia. Odeio chuchu até hoje. =p

Ela e meu ditian chegaram a comprar uma chácara, só pensando em levar os netinhos lá pra passar as ferias. No começo, a gente ia muito mesmo, com um sorrisão na cara. Depois, fomos crescendo, e como na musica, fomos nos afastando. A chácara acabou abandonada, meus avós ficaram doentes e voltaram pra Sao Paulo.

Pra quem nao me conhece e lê meus textos no blog, onde só falo da parte boa de mim, ou mesmo pra quem me conhece pouco, deve achar que eu sou uma espécie de "aprendiz da madre Tereza", com meu trabalho voluntário, meus "grandes" projetos e ideias solidarias. Muito pelo contrario. Nao se engane com minha aparencia doce e meu sorriso puro. Eu fui um monstro. Eu fui muito ruim. Na adolescência, eu fui a pior neta pra minha batian e meu ditian.

Hoje eu sei. Tudo culpa dessa época da vida em que parece que a raiva sem sentido era a essência do cotidiano. Eu fiz coisas horríveis pro meu ditian e minha batian quando era adolescente. Coisas que hoje me arrependo, porque foram sem motivo, foram sem querer e foram sem razão. Eles nao tinham culpa de nada, nao entendiam minha dor (nem eu!!), e os machuquei mesmo assim. Porque adolescentes nao conseguem ser sábios?

Pra vc ter uma ideia, teve um ano que eu nao os visitei no Natal. Estava muito revoltada e ocupada. Eles passaram o Natal sozinhos. Daí voce pode tentar me consolar: "Erika, eles tinham outros netos...". Mas eu era a neta mais velha, a neta favorita, o exemplo que todos deveriam seguir. Se eu era tao ruim com eles, imagina como foram os demais? E eles ficaram lá, quietinhos, esperando eu voltar pra casa. E um dia, eu voltei. Mas talvez, já fosse tarde demais.

Minha batian ficou muito doente, e minha tia e minha mãe cuidaram dela. Nessa época, eu ja era adulta, mas mesmo assim, nao ajudei a cuidar da minha batian. Fui no hospital e nunca vou esquecer daquele olhar. Quando ela se despediu de mim. A mesma batian que ajudava no Ikoi no Sono, que recortava os jornais japoneses em que aparecia minha foto, que me levava pro minyo e me apresentava com orgulho pras amigas. Tao frágil, tao cansada, naquela cama de hospital. Ela, que nunca brigou comigo, por eu ter sido uma neta tao ingrata, tao cruel, tao egoísta. Escutei ela dizer silenciosamente que me amava muito, que sentia saudades, naquele ultimo olhar. 

Eles se foram há muito tempo, mas até hoje sonho com eles. E nos meus sonhos, eles estao bem, felizes, com saude. A minha batian materna está com 88 anos, e muita vitalidade. Ela tambem me considera a neta favorita. Traz chá pra mim quando vê que estou trabalhando em casa. Prepara misoshiro de noite, e guarda sempre um pedaço do bolo. 

A Erika de hoje, mais serena e madura, consegue valorizar a batian que tenho. Compro flor, remedio, doce, comida. Nao economizo, mimo muito a minha batian! Temos altos papos bem loucos (ela é surdinha, entao a conversa nao faz muito sentido kkkk). Poderia morar sozinha, mas acho que ela sentiria muito a minha falta. Por isso fico aqui com ela. Já me afastei da minha outra batian, e aprendi a lição. Se voce tem uma batian, valorize. Batians são insubstituíveis. Bjs.

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O dia mais triste

Com certeza, na minha vida, o dia mais triste que vivi até hoje foi 11 de março de 2011. Naquele dia tão trágico, eu e toda humanidade sofremos por pessoas que não conhecemos e nunca vamos conhecer. Crianças, jovens, adultos, tantas vidas foram perdidas e afetadas pelo terremoto seguido de tsunami, com efeitos que ainda vão influenciar o Japão por muitos anos. É algo assustador. 

Todos os dias, quando acordamos de manhã, temos a ilusão de que controlamos a nossa existência. É um sentimento basicamente humano. Porque se formos parar pra pensar, ninguém controla o destino. Ninguém controla a natureza. Somos imensidão, e ao mesmo tempo, somos grão de areia. Um paradoxo interessante. 

Naquele dia, eu acordei meio atrasada (como sempre), nao vi as notícias, e fui correndo trabalhar. Foi só entrar no prédio que percebi que algo estava errado. E quando olhei as noticias, nao pude acreditar que aquela tragédia tinha acontecido no Japão. Quando vi aquelas imagens, fiquei meio entorpecida, incrédula, atordoada, tentando processar mentalmente aquilo que estava sendo mostrado na TV. Nao conseguia acreditar...

Antes que eu conseguisse entender direito o que estava acontecendo, começaram as centenas de ligações de todo Brasil. Gente pedindo ajuda, gente oferecendo ajuda, gente chorando, gente preocupada com os parentes, pedindo informação, querendo conversar, tentando entender se podiam fazer algo. E as informações nao paravam de chegar, as noticias atualizadas a cada minuto, a transmissão da NHK...era muita coisa para lidar ao mesmo tempo. Foram dias estressantes, corridos e tristes. Até hoje tenho pesadelos de vez em quando, principalmente com tsunami. Sinto medo. u.u

Felizmente, sempre tenho condições de fazer algo positivo pelos outros, portanto, eu ajudei como pude, auxiliando na produção de matérias, buscando informações e criando conteúdo e material de apoio para as iniciativas que estavam acontecendo no Brasil, como a campanha SOS Japão. Na missa em memória às vitimas, chorei muito, porque pensei no quanto a vida é frágil, linda e preciosa. Desejei que as vitimas descansem em paz e que as famílias possam retomar suas vidas aos poucos. A vida é o que fazemos dela, e na minha vida, sempre tentarei fazer o bem. Bjs.

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