O tsunami em março de 2011 mexeu muito comigo e com todos que trabalharam aqui no Brasil nos diversos eventos e campanhas, tentando levar nosso sentimento e fazer algo pelas pessoas que sofriam do outro lado do mundo. Chorei e me emocionei muito. Com certeza é um livro que vale a pena ler. Tem um lado poético, triste e melancólico, mas ao mesmo tempo, de muita esperança.
A autora fala sobre como as pessoas devem ter se sentido aterrorizadas e inseguras no momento em que o desastre acontecia. O pavor, o medo, o fim. Cada uma dessas pessoas tinha uma história preciosa de vida, amor, sonhos. A obra relata a dor dos que se foram, mas também o sofrimento e a angústia de quem permanece lá, que é misturada ao sentimento de reconstrução, de "gamman" (aguentar o sofrimento), tão tipico do povo japonês.
"Nessa terra desolada, que de súbito surgiu,
foram deixadas
numerosas pegadas
das almas de nomes desconhecidos
Nos sentimentos sedimentados
em diversas camadas
encontram-se gravadas
as incontáveis lamentações.
O que elas vislumbraram,
e o que desejaram?
O que tiveram de desistir
e do que se arrependeram?"
Ela conta a história do sr. Koshida, líder voluntário da brigada de incêndio da vila de Otsushi, distrito de Ando-Akahama. O sr. Koshida mandou seu colega, sr. Hiuchi, tocar a sirene do posto da brigada, para alertar todos os moradores da vila sobre a iminência do tsunami, ou seja, todos deviam sair de suas casas e buscar lugares mais altos. Só que depois do terremoto, a cidade estava sem luz, e o alarme não funcionava. O que fazer?
O sr. Koshida então ordenou que o sr. Hiuchi e todos os companheiros da brigada ajudassem a evacuar os moradores para as montanhas. E ele pegou o sino de incêndio, que normalmente nao era utilizado, e foi para a torre e ficou lá observando o mar e tocando o sino, para que as pessoas soubessem que deviam sair de casa. O repicar do sino ecoou por toda vila. O sr. Hiuchi disse que era um som triste. Os moradores foram para lugares mais altos e estavam protegidos. O tsunami chegou meia hora depois do terremoto. O sino só parou de tocar no momento em que o tsunami varreu a cidade. O sr. Koshida nunca mais foi visto.
Também há relatos de pessoas que se atiraram na correnteza de lama para tentar salvar pessoas sendo levadas pelo tsunami. Funcionários de prefeituras que ficaram no local para prestar socorro para quem precisava. O sr. Koshida deve ter visto a onda se aproximar, e mesmo assim, foi corajoso e permaneceu lá tocando o sino, para alertar e salvar os moradores da vila.
O que leva o ser humano a ser capaz de se sacrificar pelos outros? Porque cada uma dessas pessoas tinham a própria vida e a própria familia para resguardar e proteger, mas não quiseram deixar de estender a mão para quem precisava, colocando suas próprias vidas em perigo. Isso pra mim mostra que a gente não pode perder a fé na humanidade. Isso me dá esperança e força por estar viva nesse momento.
Porque a mesma espécie humana que mata por um par de tênis é capaz de sacrificar sua própria vida por um desconhecido. Temos esse algo indecifrável, que transcende a compreensão humana: todos nós possuimos essa luz, essa alma verdadeira. E na vida, devemos buscar nossa luz, revelar o potencial da nossa alma e ajudar a humanidade.
"Felicidade sem preocupação.
Sucesso sem fracassos.
Realização sem adversidades.
Paz sem angústia.
Ainda que se busque tanto,
tudo isso
não passa de ilusão.
Todas as vidas
carregam inúmeras dores
e enfrentam provações
desconhecendo suas causas
Há vozes que só se ouvem,
e verdades que só são enxergadas,
em meio a essa dor
A luz brilha justamente no meio das trevas
O homem aprofunda o próprio ser
através das suas dores."
Essa semana meu tio faleceu de repente. Teve 4 paradas cardíacas de um dia pro outro. Num dia estava vivo, no outro morreu, no dia seguinte foi enterrado. E ele não aproveitava nada da vida. Me fez parar pra pensar e refletir, "afinal, o que levamos da vida"? Dinheiro, casa, carro, roupa? Não, nada disso. O que levamos da vida é a nossa própria vida, nossa história. Eu quero ser uma pessoa que não hesitaria em tocar o sino, como o sr. Koshida, que deve estar no céu e com certeza salvou muitas vidas naquele triste dia. Bjs.